Paranapiacaba e o Café  

 
  clic na imagem para ampliar - Queria ter em mil réis as voltas que essa roda grande deu, só para descer os grãos de café para o porto! Foi o que me disse o velhinho da "almotolia", aposentado da São Paulo Railway.

A nossa história se reporta aos tempos que o porto quase parou e com ele a grande roda. um poema que em sua expressividade inspira as transformações e a felicidade. PARANAPIACABA parte protagonista dessa "ópera CAFÉ" de Mário de Andrade, história de São Paulo e de tantos ...

MORMAÇO que com toda a mata, no sol de abril castiga o lombo da tropa e da troupe. Escorre sem fim a água gelada do alto da serra cantando para oxigenar a vida, de longe as fracas badaladas do relógio restaurado da estação espera dias que os trens voltem a circular. - NUNCA MAIS! exclamam na estação terminal de Rio Grande da Serra. - Agora é museu! E a vila cheia de vida preserva o património que se quer da humanidade. MONUMENTO DE QUE, DE QUEM? Ninguém responde e os habitantes que mantiveram as casas vivas têm saudade do abandono que a ferrovia privatizada aqui deixou. SAUDADE, sòmente nós brasileiros podemos entender tal sentimento e defini-lo. Saudade do Brasil indígena cheio de matas e diversidade, saudades de Vila Rica de ouro e diamantes, saudade na diáspora de negros que ainda hoje buscam “alforria”. Consumissão e amor, Brasil bilingue não mais Tupi, Guarani ... e Português. Brasil bilingue Inglês e Latino, o que querer? Turistas para consumir nossas últimas reservas ou a vocação ferroviária já sem valor? Talvez restem algumas moedas do ouro lavrado e enviado para a matriz, para a capital. O caminhar é lento e a vida se renova na maioria da população jovem, muito jovem. ESPERANÇA, AMOR E AMBIGUIDADE colocam todos contra a parede e a vida plena das águas que cantam no intuito de oxigenar a vida é entremeada do rádio tocando alto e dos alarmes de veículos, enquanto o nevoeiro do ciclo das águas da terra que resfria não vem.

PARANAPIACABA, 18 de abril de 2002, 12:15 hs.

  Porto Parado
Desde muito que os donos da vida andavam perturbando a marcha natural do comércio do café. Os resultados foram fatais. Os armazéns se entulharam de milhões de sacas de café indestinado. E foi um crime nojento. Mandaram queimar o café nos subúrbios escusos da cidade, nos mangues desertos. A exportação decresceu tanto que o porto quase parou. Os donos viviam no ter e se agüentavam bem com as sobras do dinheiro ajuntado, mas e as trabalhadores e os operários, e os colonos? A fome batera na terra tão farta e boa. Os jornais aconselhavam paciência ao povo, anunciavam medidas a tomar. Futuramente. A inquietação era brava e nos peitos dos estivadores mais sabidos do porto parado, numa hesitação desgraçada , entre desânimos, a cólera surda esbravejava, se assanhavam os desejos de arrebentar: O armazém está sombrio, apenas no fundo a fresta da vasta porta de correr. As ilhas de sacas de café sobem até o teto no fundo, aos dois lados. Na frente, as sacas se amontoam mais desordenadas às quatro, às três, outras sozinhas.

do poema épico "CAFÉ" de Mário de Andrade.

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